AMOR PASSADO

Meus pêsames, querida - o nosso amor
agora mesmo acaba de morrer -
o seu último suspiro exalou
sem lágrimas, sem preces, sem sofrer...

Entre nós dois o tempo que passou,
passou quase parado, sem correr,
assim sem pressa alguma, terminou,
como termina todo entardecer...

Que vais fazer agora? - Eu te pergunto
Quem vai andar contigo na cidade,
beijar teus olhos, inventar assunto

Somente pra te dar felicidade?
Da minha parte, eu sei, sentirei muito,
pois sente mais quem sente mais saudade.

Gerson Campos / Oeiras, 21.07.72

DÚVIDA

As estrelas dos postes de cimento,
enchendo de clarão toda a cidade,
são mil círios velando o meu tormento
num velório de angústia e ansiedade.

Para que tanta luz e encantamento
se estou só? - Se para mim a claridade
mais claro me faz ver o desalento
da face amargurada da saudade?

Quero vê-la e não posso - Coisa incrível
se amar uma pessoa tanto assim,
notando que este amor é impossível...

Meu delírio é sentir que não tem fim,
a dúvida fatal, cruel, horrível,
de saber se ela gosta ou não de mim.

Gerson Campos / Oeiras - 19/ 07/ 72

(Este soneto, publicado no jornal "O Cometa"
Edição de Fevereiro/73, foi entregue na redação
pelo poeta poucas horas antes do seu repentino 
falecimento.)