Dizem que eu sou linda,
Assim como um céu apinhado de estrelas,
que a todos encantam tão somente em vê-las
na amplidão infinda...
Dizem mais que isso,
Que emana de mim um poder atrativo,
aquele que olha tenho-o logo cativo,
preso ao meu feitiço...
Dizem também,
Que eu sou compenetrada, soberba, orgulhosa,
que em mim não vejo a simples condição de rosa,
quero ir além...
Dizem que me ofereço
a enfeitar berços, presépios e altares,
me tornando atração de todos os olhares
quando apareço...
Muitas falas deitam,
Que penetro em alcovas de reis, de rainhas,
em sua intimidade, a pretexto que as minhas
pétalas deleitam...
Que tenho calor,
faço a vida vibrar entre dois namorados,
minha presença faz com que apaixonados
se exultem de amor...
E falam de mim,
Que tenho espinhos, que firo a mão que me afaga,
aos que desejam é cruel a minha paga,
perversa e ruim...
Maltratam-me tanto,
que mesmo, às vezes, tenho raiva de ser rosa,
que foi ingrata a natureza caprichosa
ao dar-me esse encanto...
Serei tudo isso?
Não. Sou simplesmente rosa e posso provar:
Na tristeza de um túmulo – ornamento um altar.
Estou no cortiço
e em palacetes
Como a filha do rico faustosa me tem,
a do pobre me beija e afaga também...
Estou em banquetes
Partilho amarguras,
Se em festa de gala, em festins opulentos,
eu também sou presente sentindo os lamentos
das ruas escuras...
E quem me disputa,
é a virgem que sonha de olhos abertos,
é a triste que chora seus dias incertos,
é a dissoluta...
Burguês e plebeu,
honestos e ladrões, pecadores e santas,
um cego me sente e meu perfume lhe encanta,
Me quer o ateu
e monges de toga.
Se estou nos jardins do austero Vaticano,
numa igreja ordotoxa, num templo anglicano,
numa sinagoga,
em nada me afeta...
Como sirvo ao pintor, o escultor me admira,
e notando o meu porte o maestro se inspira,
me quer o poeta...
Os meus atrativos
generalizam-se por todos os países,
penetro nas masmorras, alegro infelizes
e tristes cativos...
Subo pelas serras,
desço por campinas, em vales coloridos,
em choupanas pobres, casebres esquecidos,
por toda a Terra.
Sorte caprichosa!
Que culpa tenho eu se Deus me fez assim?
Sou simplesmente flor e nada tenho enfim,
sou apenas uma ROSA.
Gerson Campos